sábado, 12 de dezembro de 2009

Múltiplos sentidos da imagem para o ensino e a divulgação de ciência

Por Luciana Palharini
30/11/2009
“O que é manipular uma imagem? Eu posso manipular uma imagem, mas eu posso manipular os sentidos que ela provoca?” Com essas palavras, a pesquisadora do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp e professora da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), na Bahia, Elenise Cristina Pires de Andrade, iniciou sua apresentação no Foro Iberoamericano de Comunicação e Divulgação Científica, que aconteceu na Unicamp entre os dias 23 e 25 de novembro.
O trabalho, intitulado “Vidas e conhecimentos trans-versando uma metodologia de ensino de bios-logia”, trouxe o tema sobre o uso das imagens em ensino, pesquisa e divulgação das ciências biológicas.
A proposta metodológica de Andrade, que tem como inspiração os estudos culturais da ciência, é “duvidar, estranhar uma normalidade das imagens em ensino-pesquisa-divulgação das ciências biológicas carregadas e marcadas de representatividades que as amarram aos conceitos e teorias dos fenômenos do mundo”. Isso implica, primeiramente, ver a ciência como um “artefato cultural” e não como a representação de uma verdade absoluta, uma tradução da realidade. “Os artefatos culturais intensificam-se não pela representatividade de um mundo que se quer mostrar, mas na produção de sentidos múltiplos, sem a necessidade de verdadeiro ou falso”, afirma a pesquisadora.
Andrade nos trouxe como exemplo de imagens canônicas que nos são oferecidas pelo cardápio da divulgação científica: escadas evolutivas que vão da ameba ao astronauta ou do chipanzé ao homem sentado à frente do computador para retratar a história do planeta ou da humanidade. “Muitas vezes, um ‘obrigar a ver’, im-posto através de uma cultura única, que se quer explicativa, diretiva, reducionista, talvez”, acrescenta a pesquisadora.
No lugar de imagens com “espaços e tempos tão marcados por fixações de representatividade”, a autora prefere apostar em uma proposta metodológica da “multiplicação de sentidos” que uma imagem pode oferecer. O que haveria em comum entre a imagem de um berçário de estrelas, exibido na “V Semana de Física da UESC”, e a de sinais de RNA (material genético) no núcleo de uma célula eucariótica? Luzes, cores, sensações? A proximidade entre os mundos micro e macro explode e outras possibilidades de sentido podem vir à tona. “O ‘o que significa isso?’ sai de cena e a potência ‘do que seja ou não isso’ invade os momentos e pensamentos dos alunos da licenciatura (em biologia) e da professora”, apresenta Andrade.
Ao invés da preocupação em mostrar uma imagem “verdadeira” daquilo que a ciência oferece como conhecimento, está a proposta de incitar novas conexões entre conhecimentos, novos sentidos da vida. “Uma aposta em multiplicações e hibridizações em vidas (bios) e conhecimentos (logias) no atravessamento por diferentes perspectivas sobre a importância das formas, dos olhares, das linguagens, das sensibilidades no processo de produção e validação de conhecimento, enfocando a diversidade e respeitando as diferenças, ao possibilitar e propor uma educação dos sentidos na e com a elaboração de saberes singulares”, finaliza a autora.
Os alunos de Andrade no curso de licenciatura em ciências biológicas da UESC estão tendo a oportunidade de tomar contato com uma metodologia bastante singular sobre o ensino de ciências e biologia. A pesquisa da professora também faz parte do projeto “Biotecnologias de Rua”, do Labjor/ Unicamp.

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