segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Pra aliviar um pouco....

Alice no país das maravilhas e suas visões...

... algumas interpretações sobre a obra... ainda que tenhamos que navegar pelo ambiente global, é preciso extrair e produzir análises a favor de um tipo de formação humana.


Alice no País das Maravilhas é um clássico da literatura, uma das obras mais traduzidas de todos os tempos. Depois de 145 anos, a história ainda fascina, assusta e faz pensar.
Fonte: http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1189910-7823-ALICE+NO+PAIS+DAS+MARAVILHAS+AINDA+FASCINA+DEPOIS+DE+ANOS,00.html

Uma viagem ao Haiti: 360°



Mova o mouse para a direita ou esquerda

http://www.cnn.com/interactive/2010/01/world/haiti.360/index.html

http://www.cnn.com/interactive/2010/01/world/haiti.360/index.4.htm 


Refletindo sobre o lugar da Juventude no mundo do trabalho

“Eu acredito é na rapaziada/Que segue em frente e segura o rojão/Eu ponho fé é na fé da moçada/Que não foge da fera e enfrenta o leão/Eu vou à luta com essa juventude/Que não corre da raia a troco de nada/Eu vou no bloco dessa mocidade/Que não tá na saudade e constrói/A manhã desejada” (Gonzaguinha)




Todos sabem quão difíceis os tempos pelos quais passamos quanto à inserção no mundo do trabalho, mas é preciso acreditar: nos jovens e nas oportunidades. Seja pela falta de qualificação profissional, seja pela falta de oportunidades, os jovens estão em compasso de espera, mas de uma espera ativa: atentos, querem participar e construir o seu mundo. Neste sentido, nem sempre as relações entre jovens e adultos se revelam tranqüilas e exigem um grande esforço para superar conflitos insustentáveis e não compatíveis com boas relações de convívio social e nem de crescimento profissional.


          Todos nós construímos a nossa trajetória pessoal e profissional a partir de uma primeira referência: o exemplo de nossa família. Com o passar dos anos, a escola vai capacitando a gente para a compreensão do mundo. Assim, compreendendo o mundo, percebemos como participar ativamente dele. Mas quanto à inserção no mundo do trabalho, a referência que temos, ou teremos, sempre está ou estará na primeira oportunidade que nos é oferecida por alguém, seja pela competência, pela indicação, conquista ou reconhecimento profissional.

          Os jovens carregam uma energia criativa, desejando participar do mundo adulto, a partir de sua emancipação. Sonham com sua independência e, quando...

Leia na íntegra: http://boletimodiad.blogspot.com/2010/01/de-jovens-para-oportunidades.html

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Explica, mas não justifica!!!

JC e-mail 3933, de 20 de Janeiro de 2010.

9.18% dos jovens não estudam, diz Ipea

Causas do abandono são trabalho e gravidez precoce; livro também aponta demora para deixar a casa dos pais

No país, 18% dos jovens entre 15 e 17 anos não estão na escola. O dado faz parte do livro Juventude e Políticas Sociais no Brasil, lançado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea). A principal causa para o abandono da escola entre os homens é a oportunidade de trabalho e, entre as mulheres, a gravidez precoce.


No capítulo sobre gravidez na adolescência, o livro destaca a necessidade de um novo olhar sobre a questão. Os autores ressaltam que nem sempre a gestação é indesejada, como se costuma dizer - muitas vezes, as jovens fazem dela seu projeto de vida. Já os meninos podem enxergar na situação a chance de serem vistos como homens.


De acordo com os autores, se a conotação negativa fosse retirada da gravidez na adolescência, as políticas públicas seriam mais eficazes.


O estudo também mostra que essa parcela da população está saindo da casa dos pais mais tarde. Em 1982, 63,1% dos jovens entre 15 e 29 anos residiam com os pais. Em 2007, esse porcentual aumentou para 68,3%.


"O tempo na escola está sendo ampliado. Há uma transição mais longa de uma situação da adolescência para a vida adulta", explicou o presidente do Ipea, Marcio Pochmann.


O livro aponta que a parcela de jovens entre 15 e 19 anos que só trabalha caiu praticamente pela metade em 25 anos. Em 1982, 40,2% dos jovens nessa faixa etária só trabalhavam; em 2007, essa parcela caiu para 21,6%. O índice de jovens que só estuda aumentou de 27,2% para 41,3%.


O livro revela que a oferta de cursos supletivos no Brasil é insuficiente. Isso fica claro pelo número elevado de jovens entre 18 e 29 anos que frequentam o ensino regular.


O estudo comprova a queda do número de jovens no Brasil: em 1980, representavam 29% da população; hoje são 26%. A previsão é que, em 2050, caia para 19,1%.


Para Pochmann, o Brasil "chegou tarde" na execução de políticas públicas para a juventude. O país tem hoje 50,2 milhões de jovens de 15 a 29 anos.

(Eugênia Lopes)

(O Estado de SP, 20/1)

ajuda, desespero, desespero...

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Os Meninos Aprendem O Que Vivem

... é preciso considerar que existem inúmeras interfaces sociais que nos auxiliam a olhar para essas expressões sem romantizá-las ou linearizá-las frente aos contextos sociais, familiares, culturais, educacionais, emocionais, etc, tão complexos na sociedade vigente.








Se Um menino vive Criticado

Aprende a Condenar



Se Um menino vive com Hostilidade

Aprende a Combater


Se Um menino vive Envergonhado

Aprende a sentir-se Culpado


Se Um menino vive com Tolerância

Aprende a ser Tolerante


Se Um menino vive com Estímulo

Aprende a Confiar


Se Um menino vive Amado

Aprende a Amar



Se Um menino vive com Justiça

Aprende a ser Justo


Se Um menino vive com Segurança

Aprende a ter Fé


Se Um menino vive com Aprovação

Aprende a Aprovar


Se Um menino vive com Aceitação e Amizade

Aprende a falar de Amor ao Mundo


O texto original (em espanhol) foi elaborado por FILIUM – (Asociación Interdisciplinaria para el Estudio y la Prevención del Filicidio) criada por Arnaldo Rascovsky.

Fonte: http://falasaoacaso.blogspot.com/

Madalena, o teatro das oprimidas








O Centro de Teatro do Oprimido realiza no Brasil, Guiné-Bissau e Moçambique, países da África lusófona, de janeiro a maio de 2010, o Laboratório Madalena. Trata-se de uma experiência cênica voltada exclusivamente para mulheres empenhadas em investigar as especificidades das opressões enfrentadas pelas mulheres e em atuar para a criação de medidas efetivas que contribuam para a superação dessas opressões e para a igualdade dos gêneros.

A "revolta da elite branca" II

"A democracia não comporta a manipulação da História”


Em entrevista para o Portal da Fundação Perseu Abramo, o presidente da fundação e ex-ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, fala sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) e as intensas reações causadas pela iniciativa em alguns setores da sociedade. Para ele, há uma grande manipulação política nas reações ao programa. "Há uma disputa eleitoral em 2010. No caso do PNDH 3, boa parte do que li, é assim: "não li e não gostei". Estão opinando a partir do “ouvir dizer”. Não houve boa vontade nem mesmo para ler o conteúdo do Programa".

Em entrevista exclusiva para o Portal FPA, o presidente da Fundação Perseu Abramo e ex-ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, fala sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) e as intensas reações causadas pela iniciativa em alguns setores da sociedade.

Há uma discussão acalorada na imprensa sobre a Lei de Anistia, a reboque da divulgação do III Plano Nacional dos Direitos Humanos. Qual é a avaliação da Fundação sobre esse debate?

Existe um manifesto do Comitê Nacional contra a anistia aos torturadores, que está recolhendo assinaturas de juristas, intelectuais, ativistas de movimentos dos direitos humanos, lideranças de movimentos sociais e populares, cidadãos... Isso, para ser anexado a uma ação que arguiu o preceito fundamental da Constituição, chamada ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) e ingressada pela OAB em 2008. Nela, o STF vai julgar se a Lei de Anistia de 1979 concede ou não impunidade aos torturadores – por causa daquela expressão “crimes conexos”, usada para criar a ideia de que a Anistia era para os “dois lados”.


quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

flocos.tv - um site de curtas

Reflexões a serem produzidas.

Uma lembrança de alguém importante nesse planeta






Zilda Arns Neumann (Forquilhinha, 25 de agosto de 1934 — Porto Príncipe, 12 de janeiro de 2010) foi uma médica pediatra e sanitarista brasileira.
Irmã de dom Paulo Evaristo Arns, foi também fundadora e coordenadora nacional da Pastoral da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa, organismos de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
Viúva desde 1978, mãe de cinco filhos, dos quais apenas quatro estão vivos (Rubens, Nelson, Heloísa e Rogério - a filha Sílvia morreu em 2003, num acidente de carro), e avó de nove netos, recebeu diversas menções especiais e títulos de cidadã honorária no país. Da mesma forma, à Pastoral da Criança foram concedidos diversos prêmios pelo trabalho que vem sendo desenvolvido desde a sua fundação.
Formada em medicina, aprofundou-se em saúde pública, visando salvar crianças pobres da mortalidade infantil, da desnutrição e da violência em seu contexto familiar e comunitário. Compreendendo que a educação revelou-se a melhor forma de combater a maior parte das doenças de fácil prevenção e a marginalidade das crianças, para otimizar a sua ação, desenvolveu uma metodologia própria de multiplicação do conhecimento e da solidariedade entre as famílias mais pobres, baseando-se no milagre bíblico da multiplicação dos dois peixes e cinco pães que saciaram cinco mil pessoas, como narra o Evangelho de São João (Jo 6:1-15).
A sua prática diária como médica pediatra do Hospital de Crianças César Pernetta, em Curitiba, e, mais tarde, como diretora de Saúde Materno-Infantil da Secretaria de Saúde do Estado do Paraná, teve como suporte teórico as seguintes especializações:
  • Educação em Saúde Materno-Infantil, na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP);

  • Saúde Pública para Graduados em Medicina, na Faculdade de Saúde Pública (USP)

  • Administração de Programas de Saúde Materno-Infantil, pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) /Organização Mundial da Saúde (OMS), e Ministério da Saúde

  • Pediatria Social, na Universidade de Antioquia, em Medellin, Colômbia

  • Pediatria, na Sociedade Brasileira de Pediatria

  • Educação Física, na Universidade Federal do Paraná


Sua experiência fez com que, em 1980, fosse convidada a coordenar a campanha de vacinação Sabin, para combater a primeira epidemia de poliomielite, que começou em União da Vitória, no Paraná, criando um método próprio, depois adotado pelo Ministério da Saúde.

Em 1983, a pedido da CNBB, criou a Pastoral da Criança juntamente com Dom Geraldo Majella Cardeal Agnelo, arcebispo primaz de Salvador da Bahia e presidente da CNBB, que à época era arcebispo de Londrina. No mesmo ano, deu início à experiência a partir de um projeto-piloto em Florestópolis, Paraná. Após vinte e cinco anos, a pastoral acompanhou 1 816 261 crianças menores de seis anos e 1 407 743 de famílias pobres em 4060 municípios brasileiros. Neste período, mais de 261 962 voluntários levaram solidariedade e conhecimento sobre saúde, nutrição, educação e cidadania para as comunidades mais pobres, criando condições para que elas se tornem protagonistas de sua própria transformação social.

Para multiplicar o saber e a solidariedade, foram criados três instrumentos, utilizados a cada mês:
  • Visita domiciliar às famílias

  • Dia do Peso, também chamado de Dia da Celebração da Vida

  • Reunião Mensal para Avaliação e Reflexão


Em 2004, recebeu da CNBB outra missão semelhante: fundar e coordenar a Pastoral da Pessoa Idosa. Atualmente mais de cem mil idosos são acompanhados mensalmente por doze mil voluntários de 579 municípios de 141 dioceses de 25 estados brasileiros.
Dividia seu tempo entre os compromissos como coordenadora nacional da Pastoral da Pessoa Idosa e coordenadora internacional da Pastoral da Criança e a participação como representante titular da CNBB no Conselho Nacional de Saúde, e como membro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES).
Em janeiro de 2010 estava no Haiti em missão humanitária quando faleceu vítima de um forte terremoto que atingiu o país.

Anote o óbvio: a américa latina não será a mesma em 10 anos

EUA já têm 13 bases militares em torno da Venezuela

A Venezuela e sua Revolução Bolivariana estão rodeadas hoje por nada menos do que 13 bases estadunidenses na Colômbia, Panamá, Aruba e Curazao, assim como pelos porta-aviões e navios de guerra da IV Frota. Em outubro, o presidente conservador do Panamá, Ricardo Martinelli, admite que cedeu aos EUA o uso de quatro novas bases militares. O presidente Barack Obama parece ter deixado o Pentágono de mãos livres neste tema. E o presidente venezuelano Hugo Chávez denuncia que está sendo tramada uma agressão contra o país. O artigo é de Ignacio Ramonet.

A chegada de Hugo Chávez ao poder, na Venezuela, em 2 de fevereiro de 1999, coincidiu com um acontecimento militar traumático para os Estados Unidos: o fechamento de sua principal instalação militar na região, a base Howard, situada no Panamá (fechada em virtude dos Tratados Torrijos-Carter, de 1977).

Em troca, o Pentágono escolheu quatro localidades para controlar a região: Manta, no Equador; Comalapa, em El Salvador, e as ilhas de Aruba e Curazao (de soberania holandesa). A suas – por assim dizer –“tradicionais” missões de espionagem, acrescentou novas atribuições oficiais a estas bases (vigiar o narcotráfico e combater a imigração clandestina para os EUA) e outras tarefas encobertas: lutar contra os insurgentes colombianos; controlar os fluxos de petróleo e minerais, os recursos de água doce e a biodiversidade. Mas, desde o início, seus principais objetivos foram vigiar a Venezuela e desestabilizar a Revolução Bolivariana.

Após os atentados de 11 de setembro de 2001, o Secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, definiu uma nova doutrina militar para enfrentar o “terrorismo internacional”. Modificou a estratégia de deslocamento no exterior, fundada na existência de enormes bases dotados de numeroso pessoal. E decidiu substituir essas mega-bases por um número mais elevado de Foreing Operating Location (FOL) e de Cooperative Security Locations (CSL), com pouco pessoal militar, mas equipado com tecnologias ultramodernas de detecção.

Resultado: em pouco tempo, a quantidade de instalações militares estadunidenses no estrangeiro de multiplicou, alcançando a insólita soma de 865 bases de tipo FOL ou CSL distribuídas em 46 países. Jamais na história uma potência multiplicou de tal modo seus postos militares de controle para espalhar-se pelo planeta.

Na América Latina, a reorganização de bases permitiu que a de Manta (Equador) colaborasse com o fracassado golpe de Estado de 11 de abril de 2002 contra o presidente Chávez. A partir daí, uma campanha midiática dirigida por Washington começou a difundir falsas informações sobre a suposta presença neste país de céculas de organizações como Hamás, Hezbolá e até Al Qaeda.

Com o pretexto de vigiar tais movimentos e em represália contra o governo de Caracas que, em maio de 2004, pôs fim a meio século de presença militar estadunidense na Venezuela, o Pentágono ampliou o uso de suas bases militares nas ilhas de Aruba e Curazao, situadas muito perto das costas venezuelanas, onde ultimamente tem se incrementado a visita de navios de guerra dos EUA. Esse fato foi recentemente denunciado pelo presidente Chávez:

“É bom que a Europa saiba que o império norte-americano está armando-se até os dentes, enchendo de aviões e navios de guerra as ilhas de Aruba e Curazao. (...) Estou acusando a Holanda de estar preparando, junto com o império yanqui, uma agressão contra a Venezuela” (1).

Em 2006, começa-se a falar em Caracas do “socialismo do século XXI, nasce a Aliança Bolivariana para as Américas (ALBA) e Hugo Chávez é reeleito presidente. Washington reage impondo um embargo sobre a venda de armas para a Venezuela, sob o pretexto de que Caracas “não colabora suficientemente na guerra contra o terrorismo”. Os aviões F-16 da Força Aérea Venezuela ficaram sem peças de reposição. Diante desta situação, as autoridades venezuelanas estabeleceram um acordo com a Rússia para dotar a sua força aérea de aviões Sukhoi. Washington denunciou um suposto “rearmamento massivo” da Venezuela, omitindo que os principais orçamentos militares na América Latina, hoje, são os do Brasil, da Colômbia e do Chile. E que, a cada ano, a Colômbia recebe uma ajuda militar estadunidense de 630 milhões de dólares.

A partir daí, os acontecimentos se aceleram. No dia 1° de março de 2008, apoiadas pela base de Manta, as forças colombianas atacam um acampamento das Forças Armadas Revolucionarias da Colômbia (FARC), situado no interior do território do Equador. Quito, em represália, decide não renovar o acordo sobre a base de Manta, que vencia em novembro de 2009. Washington respondeu, no mês seguinte, com a reativação da IV Frota (desativada em 1948, há 60 anos...) cuja missão é vigiar a costa atlântica da América do Sul. Um mês mais tarde, os Estados sulamericanos, reunidos em Brasília, replicam criando a União de Nações Sulamericanas (UNASUL) e, em março de 2009, o Conselho de Defesa Sulamericano.

Algumas semanas depois, o embaixador do EUA em Bogotá anuncia que a base de Manta seria transferida para Palanquero, na Colômbia.

Em junho, com o apoio da base estadunidense de Soto Cano, se produz o golpe de Estado em Honduras contra o presidente Manuel Zelaya que havia conseguido integrar seu país na ALBA. Em agosto, o pentágono anuncia que terá sete novas bases militares na Colômbia. E, em outubro, o presidente conservador do Panamá, Ricardo Martinelli, admite que cedeu aos EUA o uso de quatro novas bases militares.

Deste modo, a Venezuela e a Revolução Bolivariana se vêem hoje rodeadas por nada menos do que 13 bases estadunidenses na Colômbia, Panamá, Aruba e Curazao, assim como pelos porta-aviões e navios de guerra da IV Frota. O presidente Obama parece ter deixado o Pentágono de mãos livres neste tema. Tudo anuncia uma agressão iminente. Os povos da América Latina consentirão que um novo crime contra a democracia seja cometido na região?

(1) Discurso no Encontro da ALBA com movimentos sociais da Dinamarca, em Copenhague, dia 17 de dezembro de 2009

Ignacio Ramonet é jornalista, foi diretor do Le Monde Diplomatique entre 1990 e 2008.

Tradução: Katarina Peixoto

Ecos do porão nos anos de chumbo





Quem desembarcasse no Brasil nos últimos dias e não soubesse nada de nossa história, certamente começaria a assimilar a idéia de que não houve ditadura. Que ela não matou, não seqüestrou, não torturou barbaramente homens, mulheres, crianças, religiosos, religiosas. Que não empalou pessoas, que não fez desaparecer seres humanos, que não cortou cabeças, que não queimou corpos. Que não cultivou o pau de arara, o choque elétrico, o afogamento, a cadeira do dragão, que não patrocinou monstros como Carlos Alberto Brilhante Ustra ou Sérgio Paranhos Fleury. O artigo é de Emiliano José.(*)

*Jornalista, escritor, deputado federal (PT/BA)

Fico pensando no que foi o nazismo. No Tribunal de Nuremberg. Na justiça que se procurou fazer diante daquele genocídio. Julgou-se os assassinos, e ponto. Não os que a ele resistiram. E só o faço como alusão à situação brasileira.

Fico pensando na decisão argentina de abrir todos os arquivos confidenciais das Forças Armadas referentes ao período da ditadura militar, ocorrida entre 1976-1983. Essa abertura foi feita para subsidiar a apuração de violações aos direitos humanos durante aquele período.

E penso novamente no Brasil, no barulho que se está fazendo diante da possibilidade da criação da Comissão Nacional da Verdade, que já aconteceu na maioria dos países da América Latina que viveram também a tenebrosa experiência de ditaduras. Nesses países encara-se com naturalidade que criminosos, torturadores, assassinos sejam julgados, e muitos deles foram julgados, condenados e presos.

Quem desembarcasse no Brasil nos últimos dias e não soubesse nada de nossa história, certamente começaria a assimilar a idéia de que não houve ditadura. Que ela não matou, não seqüestrou, não torturou barbaramente homens, mulheres, crianças, religiosos, religiosas. Que não empalou pessoas, que não fez desaparecer seres humanos, que não cortou cabeças, que não queimou corpos. Que não cultivou o pau de arara, o choque elétrico, o afogamento, a cadeira do dragão, que não patrocinou monstros como Carlos Alberto Brilhante Ustra ou Sérgio Paranhos Fleury, este morto, o primeiro ainda exibindo sua arrogância, cinismo e ainda certeza da impunidade.

De repente, se não insistirmos na luta para afirmar a verdade da história, gente do nosso povo pode até acreditar na versão que querem passar de que houve apenas uma luta entre um regime legal e os que a ele se opunham.

É falso, mentiroso dizer que a Comissão Nacional da Verdade que se pretende implantar queira eliminar a Lei de Anistia. Ela pretende, se instalada, apurar todas as violações de direitos humanos ocorridas no âmbito da repressão política durante os 21 anos de ditadura.

É a forma de legalmente desencadear o processo histórico, político, ético,
criminal, como disse o ministro Vannuchi, de todos os episódios de tortura, assassinatos e desaparecimentos de opositores políticos registrados naquele período.

O que se sustenta, aqui e em todo o mundo democrático, é que a tortura é crime imprescritível, e que esse crime não pode permanecer impune. Não é à toa que o ex-ditador Pinochet, um assassino, foi detido em Londres e depois julgado em seu país.

Não se queira fazer acreditar que a Comissão Nacional da Verdade pretenda desmoralizar as Forças Armadas. Ao contrário. Pretende-se que quaisquer que sejam os cidadãos que tenham cometido o crime da tortura ou que tenham assassinado pessoas por razões políticas ou tenham feito com que desaparecessem sejam julgados por seus crimes de lesa-humanidade.

E julgamento é atribuição do Judiciário, com sua soberania e com os ritos próprios da democracia. Diz-se isso para que se diferencie dos mais de 20 anos da ditadura, onde não havia qualquer legalidade. Muitos dos nossos companheiros não chegaram a ser julgados: foram mortos de forma covarde, insista-se na palavra, covarde, na tortura brutal, cruel, e os registros históricos são vastíssimos. Não cabem neste artigo.

Assistam o filme Cidadão Boilensen. É interessante como registro da associação corrupta entre grupos empresariais e a Operação Bandeirante, entre o aparato repressivo e as finanças, entre a ditadura e o grande negócio. Puro banditismo, acobertado pelo silêncio imposto à época. E para compreender, também, parte, apenas parte, da impressionante crueldade desse aparato.

Não sei como se movimentará a sociedade brasileira nesse caso. Sei que mais de 10 mil cidadãos assinaram um manifesto, inclusive eu, defendendo que os envolvidos em crimes de tortura em nome do Estado brasileiro devem ser julgados e punidos pelos seus atos.

Estamos defendendo a civilização, a humanidade, a democracia. Não dá para acobertar crimes como o da tortura ou assassinatos e desaparecimentos de opositores políticos. Esta é a posição de quem não esquece o terrorismo da ditadura. A posição de quem defende intransigentemente a democracia. E que grita: ditadura, nunca mais!




terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A "revolta da elite branca"

As ideias demoníacas dos direitos humanos,
Por Marcelo Salles, 08.01.2010

Poucas vezes uma iniciativa foi tão atacada pela direita e suas corporações de mídia quanto o Programa Nacional de Direitos Humanos. Mas não sem razão. Uma proposta como, por exemplo, a cobrança de impostos sobre grandes fortunas é realmente de arrepiar os cabelos de quem sempre os deitou sobre a riqueza nacional – ainda que esta medida esteja prevista na Constituição Federal e seja adotada pelos países que mais progrediram no mundo.
Propor um maior controle sobre a esculhambação e as mutretas que envolvem as concessões de rádio e tv só pode ser um escândalo para aqueles que fazem fortuna ao se arvorarem proprietários do espectro eletromagnético que pertence a todo o povo brasileiro.
Fiscalizar os latifúndios num país em que 1% de senhores feudais controla quase metade das terras só pode ser comparado à criação de um “demônio”, no dizer da senadora Kátia Abreu, do DEM, partido que tem suas raízes na golpista UDN.
Deve mesmo ser demoníaca a ideia de garantir direitos aos gays, lésbicas, travestis e toda essa gente que ofende pelo único pecado de ser diferente. Assim como só pode ser obra do capeta a proposta de ampliar a participação direta do povo via plebiscitos, referendos, leis e vetos populares. Por que as massas deveriam decidir diretamente os seus destinos, se sempre, desde o genocídio inaugural, são vistas como mão-de-obra barata e mal qualificada?
Poucas vezes na história desse país uma iniciativa de um governo foi tão bombardeada pela mídia, tanto em intensidade quanto na sua duração. Há pelo menos 15 dias rádios, jornais e tvs de todo o país partem para o ataque escancarado daqueles que defendem uma proposta democrática para o Brasil.
Para isso, omitem informações, descontextualizam fatos e até mesmo mentem. Um bom exemplo é a surrada versão de que o que se pretende com a Comissão da Verdade é rever a Lei de Anistia. Mentira. O que existe é uma solicitação da OAB ao Supremo Tribunal Federal sobre dispositivos de interpretação contraditória. A Constituição Federal, por exemplo, considera que a prática da tortura não pode ser objeto de graça ou anistia. Tratados internacionais estabelecem que crimes de lesa-humanidade, como a tortura, são imprescritíveis. Comissões de Verdade funcionaram ou funcionam muito bem em outros países, e isto é sistematicamente escondido por meios de comunicação.
Mas não é só isso. O fato de a Secretaria de Direitos Humanos só aparecer nas corporações de mídia nesse contexto é, por si só, bastante revelador dos propósitos das corporações de mídia. É como se não houvesse políticas públicas de defesa dos direitos das crianças e adolescentes, de pessoas com deficiência, idosos, LGBT, além dos programas de proteção a pessoas ameaçadas, combate ao trabalho escravo e até uma Ouvidoria-geral da cidadania.  Iniciativas que poderiam ser potencializadas pela visibilidade que lhe negam.
E assim funciona a velha lógica do sistema: os ataques da direita identificam os demônios para que sejam esconjurados por sua mídia. Mas até que isso tem sua serventia. Revela a urgência da democratização dos meios de comunicação de massa e deixa os inimigos da democracia completamente expostos – todos com cara de santo, naturalmente.

Marcelo Salles, jornalista, é coordenador da Caros Amigos no Rio de Janeiro e editor do Fazendo Media

Fórum Social ABC Estância Solidária

De 22 a 31 de janeiro de 2010, nas 7 cidades da região

A estimulante ideia difundida pelo Fórum Social Mundial está completando 10 anos de existência. Aqui em nossa região, o ABC paulista, seguimos agindo no micro / no local, imaginando afetar, inspirar e influenciar o macro / o global. Nisso sinceramente acreditamos...

O Fórum Social ABC Estância Solidária é a primeira ação do Ponto de Cultura CIDADÃOS ARTISTAS, projeto da ARCA (Associação Ribeirãopirense de Cidadãos Artistas), aprovado em novembro passado. É também a mais forte mobilização da rede ABC, Estância Solidária, coletivo de coletivos locais que estão se aproximando e dialogando desde o início de 2008.

Abaixo segue a programação desta intensa e extensa semana de ações por um outro mundo possível, necessário e urgente.

Mais informações e programação:

criatividade e competência instrumental




segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

story off stuff, por annie leonard


fonte: Revista Vida Simples, Edição 88, Janeiro/2010

Sherlock Holmes e Nietzsche são sucesso no metrô por R$ 2 a R$ 10

Na plataforma de embarque da estação do metrô Consolação, Márcia de Freitas primeiro comprou, por R$ 3, uma edição de contos de Machado de Assis. Cavoucou a carteira, achou uns trocados e resolveu levar também "A Volta ao Mundo em 80 Dias", de Julio Verne, também a R$ 3. Aí a máquina travou.O livro caiu em pé, impedindo a abertura da tampa de coleta. Para se queixar depois, Marta anotou telefone e e-mail da empresa 24x7 Cultural, que opera o serviço, e embarcou só com o Machado.

Filipe Redondo/Folha Imagem




Passageiro observa máquina de livros em plataforma de embarque da estação de metrô da Sé

A máquina de vender livros da Consolação é uma das 16 espalhadas por sete estações do metrô paulistano -há também uma na estação Carioca, no Rio.

Começaram a funcionar em 2003 e, segundo a operadora, acabam de alcançar a soma de 1 milhão de livros vendidos.

De clássicos nacionais a autoajuda; de obras técnicas (manuais de Excel e matemática) a compêndios sobre pensadores; de livros infantis a policiais, oferecem uma miscelânea.

E, como de quase tudo se vende, compra-se de quase tudo, inclusive muito Nietzsche. O filósofo alemão é o autor com mais títulos à venda, 19, que seduziram 36 mil compradores desde 2004. "Assim Falava Zaratustra" e "Humano, Demasiado Humano" são os best-sellers nietzschianos, 9.000 exemplares de cada um no período.

Obras de domínio público, como as de Nietzsche e Arthur Conan Doyle, criador de Sherlock Holmes --e autor mais vendido no metrô--, compõem boa parte da oferta, o que ajuda a baixar o preço. Outro facilitador são as edições simples, de papel barato e pequenos formatos. Custam de R$ 2 a R$ 10 --a maioria entre R$ 3 e R$ 5.

Márcia, a do livro preso, tem 27 anos, mora em Itaquaquecetuba (Grande São Paulo), estuda letras numa faculdade na Barra Funda e trabalha num restaurante na região da avenida Paulista. Passa três horas por dia dentro de algum transporte público. "Comprei pelo preço e pela rapidez, porque não tenho tempo de parar numa livraria. Mas tenho tempo de sobra pra ler no metrô, no trem e no ônibus", explica.

O dono da 24x7, o médico Fabio Bueno Netto, 50, pensou mesmo em explorar a agilidade de um serviço expresso, ao importar máquinas projetadas para vender salgadinhos e adaptá-las para livros.

Cada equipamento comporta 280 volumes. Segundo Netto, são vendidos cerca de 500 por dia --15 mil/mês, 180 mil/ano.

Num mercado de 211 milhões de livros por ano (dados da Fipe de 2008), é pouco. Mas às vezes as máquinas alcançam façanhas, como a venda de 3.300 exemplares de "Dom Casmurro", de Machado de Assis, em dez dias, em novembro --o livro estava na lista dos vestibulares da Fuvest, da Unicamp e da PUC-SP. Um potencial best-seller tem, no mercado tradicional, tiragem inicial de 10 mil exemplares, às vezes menos.

A 24x7 compra os livros de mais de 60 editoras. O escritório-depósito da empresa é abarrotado de livros. Netto, um sujeito alto e de fala mansa, que jura que falhas das máquinas como a vivida por Márcia são raras, parece não se afetar com a bagunça. Ele conta que pede a ajuda da secretária para selecionar as obras que compra.

"O critério é de exclusão: não ponho pornografia, violência pura, política partidária nem livros doutrinários. A partir daí vejo qualidade de edição e os títulos que podem contribuir para conscientizar a população."

O Metrô, que saúda a iniciativa do empresário, cobra R$ 700 por mês por m2 (que comporta uma ou duas máquinas) pela autorização de uso, baseada num regulamento para exploração das áreas destinadas a comércio e serviços.

René, o Bom

A estação da Sé, por onde circulam diariamente 750 mil pessoas, concentra o maior número de máquinas: sete. Logo após a catraca, há duas, separadas por poucos metros.

O funcionário público René Barreto, 45, parou numa, escrutinou sem sucesso e foi até a outra, onde tampouco tinha o que buscava: a edição de bolso de "Jeremias, o Bom", o generoso personagem de Ziraldo. "Sempre levo para presentear amigos. Já comprei uns 12 nas máquinas", diz ele, que fica em média meia hora por dia no metrô. "A vantagem [do serviço] é mostrar às pessoas que elas podem comprar livro barato. Três reais é dinheiro de pinga."

Algumas dicas interessantes...

Dicas

www.dominiopublico.gov.br - clássicos da literatura
aplauso.imprensaoficial.com.br - coleção de 186 títulos sobre as artes cênicas
www.zahar.com.br
www.editoradobispo.com.br
www.cronopios.com.br - revista literária, pockets eletrônicos
www.osviralata.com.br - site de autores independentes
www.gutenberg.org - dispõe de mais de 30 mil títulos
www.education-portal.com - oferece uma lista de 40 sites para baixar livros em inglês grátis.
www.bibvirt.futuro.usp.br - dispõe de uma boa lista de audiobooks
www.bn.br/site/pages/bibliotecaDigital/bibsemfronteiras - tem que instalar um programa para baixar os títulos

Fonte: http://livrosepessoas.blogspot.com/

sábado, 9 de janeiro de 2010

Brasil transparente! Será?




Será que realmente é confiável?

Quem é que alimenta o portal?

Quem seleciona o que é publicado?

A quem é confiada essa função?  

Anote o óbvio: o mundo não será o mesmo em 10 anos.




A doutrina Hillary: a gestação do argumento golpista

Os apologistas do processo eleitoral passaram a questioná-lo. Os argumentos que tiram da manga são de uma imoralidade que beira o ridículo. Dizem, por exemplo, que o que conta não são as eleições, mas sim a ação de governo; ou que o sufrágio contaminado de populismo é um engano (quando ganha a esquerda, é claro) e outras afirmações no mesmo estilo. A “doutrina desqualificadora da eleição” vem ganhando terreno em diversos setores políticos e já foi expressa, em reiteradas declarações, pela atual secretária de Estado dos EUA. O artigo é de José Vicente Rangel.

Quando o movimento popular latinoamericano se encontrava acossado, perseguido com inaudita crueldade pelos agentes de poder da região; quando a divisão interna da esquerda esgotava sua capacidade para converter-se em opção e o domínio dos partidos tradicionais era absoluto, as eleições constituíam o desideratum da política democrática. A instituição do sufrágio era a alternativa e a recomendação que se dava a quem praticava formas de lutas distintas, devido ao esgotamento a que estavam submetidas. O caminho era a incorporação à via pacífica e eleitoral.

Em resumo, a mensagem que era enviada a partidos políticos, grupos de ação e dirigentes deste universo que se movia na linha insurrecional consistia na adoção do voto como saída. Pode-se dizer que a vanguarda do movimento popular aceitou a recomendação, mas não é assim. O que ocorreu foi que o povo adquiriu consciência, os dirigentes superaram o maniqueísmo e assumiram sem peso na consciência a luta pacífica e democrática, por meio do sufrágio. O tempo acabou resolvendo o dilema luta pacífica versus luta armada. A evolução da sociedade e a maturidade de uma direção que compreendeu a nova realidade. O resultado foi impressionante. O movimento popular saiu do labirinto de um debate infinito e de sucessivas derrotas e se conectou à realidade de cada nação, colocando assim toda sua capacidade de luta, sua criatividade e coragem na direção correta.

Os setores populares passaram, em uma virada espetacular, do simples reformismo a processos de mudança social profundos, desconcertando o inimigo tradicional. A partir de então, em menos de uma década, a região presenciou a chegada de organizações populares ao governo em numerosos países. Não foi um milagre, mas sim um fato histórico: foi a comprovação da justeza de uma linha política.

Em função da experiência acumulada durante uma década de derrotas, agora o inimigo ideológico e político se dá conta do erro em que incorreu quando sacralizou o sufrágio eleitoral e incentivou o movimento popular a desenvolver a luta de massas legalmente. E, obviamente, a reação não tardou. Os apologistas do processo eleitoral passaram a questioná-lo. Os argumentos que tiram da manga são de uma imoralidade que beira o ridículo. Dizem, por exemplo, que o que conta não são as eleições, mas sim a ação de governo; ou que o sufrágio contaminado de populismo é um engano (quando ganha a esquerda, é claro; não quando ganha a direita) e outras afirmações no mesmo estilo.

O que poderíamos definir como “doutrina desqualificadora da eleição” toma corpo em setores políticos, partidos, ONGs, elites intelectuais, grupos universitários, empresários, proprietários de meios de comunicação. Uma colunista venezuelana abordou o tema cruamente e afirmou: “É preciso entender que a democracia não é sobre eleições, mas sim sobre instituições”. E um prefeito envolvido em ações desestabilizadoras sentenciou: “Chávez usa a democracia para destruí-la”. Como estas há muitas outras expressões reveladoras do propósito de desqualificar o voto do povo, de questioná-lo, para atribuir-se o direito de julgar a democracia não por sua origem, mas sim pela opinião que os poderes fáticos, os grupos de pressão nacionais e transnacionais têm sobre ela. Ou seja, que a qualidade democrática e um governo dependeria de valorações de caráter subjetivo e seria alheia à origem do mesmo.

Por que o título deste artigo? Porque em reiteradas declarações a atual Secretária de Estado dos EUA manifesta esse ponto de vista. Em entrevista a um canal de TV venezuelano, sustentou que “a democracia não é só eleições”. Claro que não, mas a que se deve a ênfase nesta afirmação? Ela logo desenvolveu sua afirmação: é preciso privilegiar a avaliação da noção “governo” e dar-lhe prioridade em relação ao processo eleitoral. Na concepção que a senhora Hillary Clinton começa a manejar, desvaloriza-se – ou, caso alguém não goste do termo, minimiza-se – o que no passado foi fundamental: a decisão do povo expressa nas eleições; e, logo em seguida, se valoriza a pretensão de que o que define a democracia é a gestão de governo. Mas na teoria universalmente aceita é o voto popular que outorga legitimidade e constitui a origem da democracia, enquanto que o ato de governo é circunstancial e sempre polêmico, uma vez que é avaliado em função de critérios políticos, o que, normalmente, é feito por grupos de pressão nacionais e internacionais.

Mas esta consideração sobre a valoração de conceitos como eleição e governo, já não é teoria, mas sim prática, como acabamos de ver acontecer em Honduras. O governo de Zelaya era (é) um governo legítimo, constitucional, produto do voto dos hondurenhos. Mas a concepção de que a origem, o voto, é relativo e o que conta é a conseqüência, o governo, abriu as portas aos golpistas militares e civis de Tegucigalpa no dia 28 de junho. Todos os preconceitos que a sociedade civil acumulou durante décadas contra a proeminência militar e a rejeição ao golpe de Estado, viraram fumaça quase que imediatamente. Aqueles que trabalham para golpes militares contra governos eleitos popularmente, sentem-se tacitamente apoiados. Na Venezuela, por exemplo, vemos aqueles que questionam o apoio dos militares a um regime constitucional, resultado de uma eleição, apoiando descaradamente os militares que derrubaram Zelaya. Por enquanto o governo Obama-Hillary equilibra-se na corda bamba das pressões e faz concessões à ultra-direita mundial quando alimenta uma inefável iniciativa que golpeou a instituição do sufrágio como fonte de poder. O que equivale retornar ao tenebroso passado golpista.

José Vicente Rangel é ex-vice presidente da Venezuela e ex-chanceler do governo Hugo Chávez.
Tradução: Katarina Peixoto

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

2010: perspectivas para as crises e conflitos nas relações internacionais

O ano de 2009 não apresentou grandes novidades ou esperanças maiores sobre o que poderá nos esperar em 2010, por mais que a eleição de Barack Obama o tenha sugerido. Em um ano, as crises mantiveram-se praticamente as mesmas e a tão esperada “nova abordagem” das relações internacionais na verdade não aconteceu. Deu-se, isso sim, a instauração de um clima mais aberto, mais voltado para o entendimento em alguns campos, em particular entre os grandes centros de poder. O artigo é de Francisco Carlos Teixeira da Silva.(*)


terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Dando outro rumo pra prosa...

A ditadura e a sua resistência.




O Brasil precisa se livrar da ditadura militar, mas não antes de dissecá-la e neutralizar-lhe as sementes. Os militares de hoje não podem ser obrigados a defender gente como o coronel Brilhante Ustra, o carniceiro do DOI-CODI de São Paulo, nem o capitão Wilson Machado, vítima mutilada pela própria bomba que pretendia explodir, em 1º de maio de 1981, durante um show de música no Riocentro, onde milhares de pessoas comemoravam o Dia do Trabalho. Um Exército que dá guarida e, pior, se orgulha de gente assim não precisa de mais armamento. Precisa de ar puro. O artigo é de Leandro Fortes.

Leia na integra em:

Recebi do João Paulo, um ex-aluno que parece, não foi o mesmo!!!

Não precisa fazer comentários nem antes, nem depois da postagem....


Quem conseguir ler, entenda II




Se há uma característica que vem marcando o processo de desenvolvimento da civilização desde o seu início é a idéia de que, para existir, a sociedade depende da integração do homem com seu meio. Essa ênfase ao pertencimento social é decorrente dos vários elementos que ameaçavam constantemente a integridade dos grupos humanos no passado, tais como: guerras, pestes e invasões estrangeiras. Essa necessidade de coesão social fomentou a criação de narrativas que gradativamente ajudaram a cristalizar um sistema de idéias sobre a expectativa da sociedade em relação ao papel social do indivíduo. Nesse sistema, o ‘Outro’ é aquele que, deliberadamente ou não, se encontra isolado do convívio com seus semelhantes, ou não compartilha dos mesmos costumes. Nesta condição, ele se torna o desvio a ser evitado, o exemplo do negativo e do perigoso. Conforme será visto a seguir, dentre as várias formas de criação de narrativas, o conto de fada também se utiliza significativamente da imagem de ameaça que o ‘Outro’ representaria para a integridade da sociedade. A fim de desenvolver e exemplificar tal idéia, este artigo discutirá como o conto de fada “Chapeuzinho Vermelho” funda sua forma num discurso legitimador da integração social através das personagens do lobo e da avó



sábado, 2 de janeiro de 2010

Quem conseguir ler, entenda

" - Você poderia me dizer, por gentileza, como é que faço pra sair daqui?
- Isso depende muito de onde você pretende ir - disse o Gato
- Para mim tanto faz para onde quer que seja...- respondeu Alice.
-Então, pouco importa o caminho que você tome - disse o Gato."

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Uma mensagem para refletir no novo ano novo...

Um presente do meu irmão!





 
"Ama que tudo é só Amar/
Sonha que a vida é só sonhar/
Toma do Amor tudo que é bom/
Toma depressa enquanto é bom./
Que depois do Amor/
É só chorar/
Se depois do Amor/
É só chorar/"

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Duas visões de mundo se confrontam em Copenhague




Tanto o aquecimento global quanto as perturbações da natureza e a injustiça social mundial são tidas como externalidades, vale dizer, realidades não intencionadas e que por isso não entram na contabilidade geral dos estados e das empresas. Finalmente o que conta mesmo é o lucro e um PIB positivo. Mas estas externalidades se tornaram tão ameaçadoras que estão desestabilizando o sistema-Terra, mostrando a falência do modelo econômico neoliberal e expondo em grave risco o futuro da espécie humana. O artigo é de Leonardo Boff.
Data: 19/12/2009
Em Copenhague nas discussões sobre as taxas de redução dos gases produtores de mudanças climáticas, duas visões de mundo se confrontam: a da maioria dos que estão fora da Assembléia, vindo de todas as partes do mundo e a dos poucos que estão dentro dela, representando os 192 estados. Estas visões diferentes são prenhes de conseqüências, significando, no seu termo, a garantia ou a destruição de um futuro comum.

Os que estão dentro, fundamentalmente, reafirmam o sistema atual de produção e de consumo mesmo sabendo que implica sacrificação da natureza e criação de desigualdades sociais. Crêem que com algumas regulações e controles a máquina pode continuar produzindo crescimento material e ganhos como ocorria antes da crise.

Mas importa denunciar que exatamente este sistema se constitui no principal causador do aquecimento global emitindo 40 bilhões de toneladas anuais de gases poluentes. Tanto o aquecimento global quanto as perturbações da natureza e a injustiça social mundial são tidas como externalidades, vale dizer, realidades não intencionadas e que por isso não entram na contabilidade geral dos estados e das empresas. Finalmente o que conta mesmo é o lucro e um PIB positivo.

Ocorre que estas externalidades se tornaram tão ameaçadoras que estão desestabilizando o sistema-Terra, mostrando a falência do modelo econômico neoliberal e expondo em grave risco o futuro da espécie humana.

Não passa pela cabeça dos representantes dos povos que a alternativa é a troca de modo de produção que implica uma relação de sinergia com a natureza. Reduzir apenas as emissões de carbono mas mantendo a mesma vontade de pilhagem dos recursos é como se colocássemos um pé no pescoço de alguém e lhe dissésemos: quero sua liberdade mas à condição de continuar com o meu pé em seu pescoço.

Precisamos impugnar a filosofia subjacente a esta cosmovisão. Ela desconhece os limites da Terra, afirma que o ser humano é essencialmente egoista e que por isso não pode ser mudado e que pode dispor da natureza como quiser, que a competição é natural e que pela seleção natural os fracos são engolidos pelos mais fortes e que o mercado é o regulador de toda a vida econômica e social.

Em contraposição reafirmamos que o ser humano é essencialmente cooperativo porque é um ser social. Mas faz-se egoísta quando rompe com sua própria essência. Dando centralidade ao egoísmo, como o faz o sistema do capital, torna impossível uma sociedade de rosto humano. Um fato recente o mostra: em 50 anos os pobres receberam de ajuda dois trilhões de dólares enquanto os bancos em um ano receberam 18 trilhões. Não é a competição que constitui a dinâmica central do universo e da vida mas a cooperação de todos com todos. Depois que se descobriram os genes, as bactérias e os vírus, como principais fatores da evolução, não se pode mais sustentar a seleção natural como se fazia antes. Esta serviu de base para o darwinismo social. O mercado entregue à sua lógica interna, opõe todos contra todos e assim dilacera o tecido social. Postulamos uma sociedade com mercado mas não de mercado.

A outra visão dos representantes da sociedade civil mundial sustenta: a situação da Terra e da humanidade é tão grave que somente o princípio de cooperação e uma nova relação de sinergia e de respeito para com a natureza nos poderão salvar. Sem isso vamos para o abismo que cavamos.

Essa cooperação não é uma virtude qualquer. É aquela que outrora nos permitiu deixar para trás o mundo animal e inaugurar o mundo humano. Somos essencialmente seres cooperativos e solidários sem o que nos entredevoramos. Por isso a economia deve dar lugar à ecologia. Ou fazemos esta virada ou Gaia poderá continuar sem nós.

A forma mais imediata de nos salvar é voltar à ética do cuidado, buscando o trabalho sem exploração, a produção sem contaminação, a competência sem arrogância e a solidariedade a partir dos mais fracos. Este é o grande salto que se impõe neste momento. A partir dele Terra e Humanidade podem entrar num acordo que salvará a ambos

Leonardo Boff é teólogo e escritor.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Caro professor...

Caro Professor ,


Alunos da periferia das grandes cidades são alunos pobres. A pobreza, mais uma vez, é acusada de práticas de violência. Tenho trabalhado em escolas da periferia de Curitiba. A primeira vez que entrei em uma dessas escolas, fiquei assustado. A aparência e os modos dos alunos não condiziam nem um pouco com figuras angelicais que povoam o imaginário docente. Assustei-me mais ainda quando comecei a ouvir o que os professores diziam desses jovens: vagabundos, prostitutos, verdadeiros animais. Antes do sinal da entrada, camburões da polícia militar paravam em frente a escola e, com armas na mão, os soldados empurravam os jovens contra a parede como se estivessem em um campo de concentração. "Acham que todo mundo é bandido, professor. Tava trabalhando com o pai até agora!" Na sala de aula, querem viver uma infância que lhes foi subtraída. O único lugar em que podem ser adolescentes e crianças é na sala de aula. Falam bastante, não prestam atenção no professor, não conseguem ler um texto simples. São desajustados para os modelos docentes de outros tempos. Tempos em que a escola não era para eles. Agora, sob a ótica de certos princípios pedagógicos, a escola parece continuar não sendo para eles. Ou melhor, é para eles, desde que não sejam o que são, que se enquadrem nos modelos angelicais de uma escola que quer adaptá-los docilmente a uma dinâmica de mundo que insiste em mantê-los a margem. Quem é violento não são nossos jovens. Violento é nosso país, são nossas instituições. Está mais do que na hora da escola parar de rotular jovens e adolescentes como bandidos e desenvolver projetos educativos em que eles possam, efetivamente, se tornar sujeitos, sujeitos de direito. Os meninos com quem trabalhei e com quem trabalho não têm absolutamente nada de marginais. Devemos ter consciência de que a diferença marca nossas identidades e nos enriquece, como diria talvez Adil; devemos ter consciência também de que a desigualdade deforma. E a briga é junto com essa meninada pela humanização, de alunos e também de professores. É o caminho da escola. Freirianamente, franciscanamente, marxistamente... Abraços.

Sebastião 

sábado, 12 de dezembro de 2009

Múltiplos sentidos da imagem para o ensino e a divulgação de ciência

Por Luciana Palharini
30/11/2009
“O que é manipular uma imagem? Eu posso manipular uma imagem, mas eu posso manipular os sentidos que ela provoca?” Com essas palavras, a pesquisadora do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp e professora da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), na Bahia, Elenise Cristina Pires de Andrade, iniciou sua apresentação no Foro Iberoamericano de Comunicação e Divulgação Científica, que aconteceu na Unicamp entre os dias 23 e 25 de novembro.
O trabalho, intitulado “Vidas e conhecimentos trans-versando uma metodologia de ensino de bios-logia”, trouxe o tema sobre o uso das imagens em ensino, pesquisa e divulgação das ciências biológicas.
A proposta metodológica de Andrade, que tem como inspiração os estudos culturais da ciência, é “duvidar, estranhar uma normalidade das imagens em ensino-pesquisa-divulgação das ciências biológicas carregadas e marcadas de representatividades que as amarram aos conceitos e teorias dos fenômenos do mundo”. Isso implica, primeiramente, ver a ciência como um “artefato cultural” e não como a representação de uma verdade absoluta, uma tradução da realidade. “Os artefatos culturais intensificam-se não pela representatividade de um mundo que se quer mostrar, mas na produção de sentidos múltiplos, sem a necessidade de verdadeiro ou falso”, afirma a pesquisadora.
Andrade nos trouxe como exemplo de imagens canônicas que nos são oferecidas pelo cardápio da divulgação científica: escadas evolutivas que vão da ameba ao astronauta ou do chipanzé ao homem sentado à frente do computador para retratar a história do planeta ou da humanidade. “Muitas vezes, um ‘obrigar a ver’, im-posto através de uma cultura única, que se quer explicativa, diretiva, reducionista, talvez”, acrescenta a pesquisadora.
No lugar de imagens com “espaços e tempos tão marcados por fixações de representatividade”, a autora prefere apostar em uma proposta metodológica da “multiplicação de sentidos” que uma imagem pode oferecer. O que haveria em comum entre a imagem de um berçário de estrelas, exibido na “V Semana de Física da UESC”, e a de sinais de RNA (material genético) no núcleo de uma célula eucariótica? Luzes, cores, sensações? A proximidade entre os mundos micro e macro explode e outras possibilidades de sentido podem vir à tona. “O ‘o que significa isso?’ sai de cena e a potência ‘do que seja ou não isso’ invade os momentos e pensamentos dos alunos da licenciatura (em biologia) e da professora”, apresenta Andrade.
Ao invés da preocupação em mostrar uma imagem “verdadeira” daquilo que a ciência oferece como conhecimento, está a proposta de incitar novas conexões entre conhecimentos, novos sentidos da vida. “Uma aposta em multiplicações e hibridizações em vidas (bios) e conhecimentos (logias) no atravessamento por diferentes perspectivas sobre a importância das formas, dos olhares, das linguagens, das sensibilidades no processo de produção e validação de conhecimento, enfocando a diversidade e respeitando as diferenças, ao possibilitar e propor uma educação dos sentidos na e com a elaboração de saberes singulares”, finaliza a autora.
Os alunos de Andrade no curso de licenciatura em ciências biológicas da UESC estão tendo a oportunidade de tomar contato com uma metodologia bastante singular sobre o ensino de ciências e biologia. A pesquisa da professora também faz parte do projeto “Biotecnologias de Rua”, do Labjor/ Unicamp.

Grupo avalia literatura científica para crianças


Por Danilo Albergaria
03/12/2009
Em pôster apresentado durante o I Foro Iberoamericano de Comunicação e Divulgação Científica, que ocorreu na Unicamp entre os dias 23 e 25 de novembro, o pesquisador Paulo Roberto da Cunha, do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp, mostrou uma extensa análise de livros infantis voltados para a divulgação científica. E os resultados do seu grupo de pesquisa não são nada animadores: de um total de mais de 280 livros analisados, apenas pouco mais de trinta foram considerados livres de equívocos graves e adequados como leitura científica para crianças.
O grupo responsável pela pesquisa contou com três pesquisadores em educação vindos de áreas específicas da ciência: além de Cunha, biólogo do Centro Universitário Fundação Instituto de Ensino para Osasco (Unifieo) e pós-graduando do Labjor/Unicamp, o grupo é formado pelos químicos Mansur Lutfi, da Unicamp, e Fábio Gouveia, da USP. Numa primeira triagem, cerca de 90 livros já foram eliminados por erros grosseiros ou inadequação material, com encadernação de péssima qualidade. Os restantes (191) foram, então, analisados pelo grupo. “A análise foi uma avaliação de conteúdo, temática e linguagem de livros não-didáticos, que podem ser considerados como leitura complementar, para crianças de seis a oito anos”, explica Cunha.
Um dos problemas mais comuns encontrados pelo grupo foi a inadequação da linguagem para o público infantil. Cunha mostra um exemplo em que a proporção da superfície da Terra entre terra e água é apresentada em termos de quilômetros quadrados. “A analogia é completamente inadequada: uma criança nessa faixa etária, mesmo que já tenha ouvido falar do conceito de quilômetro quadrado, ainda não tem capacidade de abstração para poder imaginar com clareza a proporção que está sendo proposta”, avalia. O pesquisador cita outro exemplo de erro que vem da proporção: “Encontramos muitas imagens que apresentam animais completamente fora de proporção, coisas como um gato do mesmo tamanho de uma baleia, representações descuidadas que acabam tendo impacto na visão das crianças”, critica.
Para ele, erros em imagens são tão ou mais graves quanto erros no texto escrito, especialmente em se tratando de leitura infantil. Cunha lembra de uma representação da diferença entre água do mar e água doce: “Para mostrar essa diferença, o livro mostra uma pessoa segurando, na água, um saco de açúcar”, diz, com um inevitável misto de gravidade e riso, exemplificando representações pictóricas que, além de transmitirem ideias completamente errôneas, não contribuem em nada para a criança entender importantes e rudimentares conceitos científicos.
Esses equívocos parecem inocentes quando comparados à confusão que muitos livros fazem entre o discurso científico e o pensamento mágico, o misticismo e também o senso comum. Animais e plantas que conversam com seres humanos podem ser úteis para aguçar a imaginação literária e poética das crianças, mas ao mesmo tempo, se isso for feito sem muito cuidado, pode resvalar no animismo, no antropomorfismo e na magia, coisas que a ciência moderna varreu do mapa há tempos. Cunha esclarece que “o grupo (de pesquisa) parte do ponto de vista do letramento científico; portanto, aquilo que não teria problemas numa literatura não voltada para as ciências, neste tipo de livro pode acabar não sendo adequado do ponto de vista científico e de letramento científico para crianças”.
É verdade que, quando se trata de escrever sobre ciência para um público amplo - e não apenas o infantil -, caminha-se no fio da navalha. Conceitos científicos não são concebidos para serem facilmente compreensíveis. O que não quer dizer que qualquer simplificação seja válida e aceitável. Se o letramento científico é o objetivo de um nicho de livros infantis, esse nicho deve corresponder precisamente aos conceitos que quer ensinar. Conclui-se, por esse estudo, ser preciso mais cuidado com “astronautas conversando com astros” e “mamíferos apresentados como o topo da hierarquia entre os animais”, nas palavras de Cunha, pois estas são imagens estranhas à ciência. Depurar o que as crianças aprendem é fundamental para uma sociedade que pretende compreender, partilhar e participar da construção do conhecimento científico.