quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Nota de repúdio ao “debate” da SBPC – Goiás com os candidatos ao governo



A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência em Goiás (SBPC-Goiás) organiza um “debate” com os candidatos ao governo de Goiás para, em suas palavras, juntar professores e pesquisadores do estado e conhecer suas propostas, em especial na área de Ciência, Tecnologia e Inovação, e entregar-lhes uma agenda com as pautas defendidas pela entidade na área.

Em uma atitude contrária a qualquer preceito democrático, alinhada com as concepções mais reacionárias que norteiam a política da grande mídia e do Congresso Nacional, de isolar, ignorar e silenciar sobre as propostas e ideias políticas dos partidos de esquerda, e contrariando seus próprios preceitos autoproclamados, de “contribuir na consolidação de uma consciência coletiva de nação, que possibilite o desenvolvimento sustentável e uma distribuição equânime da riqueza gerada”, a SBPC convida para o “debate” apenas os 4 candidatos com mais intenção de voto nas pesquisas, alegando não dispor de tempo para dar voz a todos. Coincidentemente, os referidos candidatos são representantes das mais retrógradas, antinacionais e antipopulares oligarquias locais. 

Ronaldo Caiado dispensa apresentações, com sua família sendo dona de latifúndios e representante dos interesses das elites locais desde o Brasil Império. Caso fosse do interesse dos Caiado desenvolver a ciência e tecnologia locais, certamente ao longo dos 150 anos em que esteve no poder teria tempo, influência política e recurso de sobra para turbinar nossa indústria e nossa produção científica. Por que Goiás, por exemplo, possuindo a maior reserva de nióbio do Brasil, um metal supercondutor utilizado em equipamentos médicos, indústria nuclear e aeroespacial, não é usado para transformar nossa condição de “celeiro do país”, de exportador de soja, em um estado com indústria e pesquisa de ponta, de fomento à alta tecnologia? 

Raquel Teixeira é a idealizadora das OSs na educação básica, que vão na contramão de qualquer ideia de educação pública, de qualidade e engajada na produção de futuros jovens cientistas e pesquisadores para as universidades. Além deles, temos Daniel Vilela (MDB) e Kátia Maria (PT), que representam interesses comprometidos com os partidos de suas coligações e com os patrocinadores de suas campanhas.

Além disso, Daniel Vilela votou a favor da Emenda Constitucional 95, que compromete e reduz investimentos em ciência e tecnologia por 20 anos, e Kátia Maria que não se posiciona contra as OSs em seu programa (privatização da educação e da ciência), bem como seu partido implementou a EBSERH que entregou os hospitais universitários e sua produção científica na mão de interesses privados.

Os candidatos identificados com o campo da esquerda, pelos partidos que expressam a classe trabalhadora goiana organizada de forma autônoma, sem rabo preso com empresários nem mecenas eleitorais, Marcelo Lira (PCB), Wesley Garcia (PSOL) e Alda Lúcia (PCO), foram solenemente ignorados pela SBPC sob a desculpa de não estarem entre os primeiros colocados nas intenções de voto. Ao tomar essa atitude, a Sociedade que diz representar os cientistas e pesquisadores brasileiros no estado de Goiás, demonstra seu caráter antidemocrático e consonante com os interesses da elite local, dominada pelo latifúndio, profundamente arraigada nas mais rudimentares formas de produção industrial e completamente desinteressadas numa produção científica e tecnológica que realmente coloque Goiás e o Brasil nos trilhos das economias de primeiro mundo, que investem em indústria pesada e tecnologia de ponta.

Para além disso, vale frisar que o latifúndio representa o extermínio da biodiversidade do Cerrado e dos povos originários, a produção de grãos inundados de fertilizantes e agrotóxicos destinados à exportação (70% do alimento que chega a nossa mesa vem da agricultura familiar), a hiperconcentração de terras, a degradação do trabalho humano (haja vista a recorrência de trabalho escravo nas relações de  trabalho no campo) e a destruição cada vez mais acelerada do bioma Cerrado. 

A SBPC ignora inclusive o fato que tanto o Marcelo Lira (PCB), quanto Wesley Garcia (PSOL), são professores, e têm contribuições de conhecimento profissional, além do aspecto puramente político, para contribuir num debate dessa natureza. Wesley é pedagogo e professor da rede pública de ensino básico em Valparaíso, e o Marcelo é professor da Rede Tecnológica Federal de Ensino, no IFG, sendo, portanto, além de candidato, um legítimo profissional que atua diretamente na área que será debatida no evento, um pesquisador e cientista social. Repudiamos a atitude da SBPC e consideramos pífio e patético organizar um suposto debate que impeça a participação de projetos alternativos e progressistas para a ciência, a tecnologia e inovação, se aliando à prática própria da mídia empresarial e do corrupto Congresso Nacional de invisibilizar projetos dissonantes.

Assinam essa nota:

Partido Comunista Brasileiro - PCB

Partido Socialismo e Liberdade - PSOL

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